Distante uma légua de Cássia eleva-se o gigantesco rochedo do Escolho,
à cuja sombra, na ladeira de uma próxima coluna, se encontram os poucos
edifícios que compõem o pequeno povoado de Rocca Porena.
Entre os moradores desta pequena aldeia viviam em meados do século XIV
Antonio Lotti Mancini e Amata Ferri. Amavam-se os esposas com santo afeto.
acompanhado do exercício de uma vida virtuosa e de exemplares costumes.
Faltava-lhes, porém, para se considerarem felizes, que o Senhor lhes
Concedesse um filho a quem, prodigalizar seu carinho. E solicitude
paternal. Era está a única aspiração de seus corações, o fim de suas
fervorosas preces. À medida que multiplicavam as súplicas, crescia sua
esperança; mas o Senhor, que parecia mostrar-se surdo, foi diferindo o
cumprimento dos desejos dos esposos, para melhor provar sua constância, e,
com o exercício de novas virtudes, fazer-lhes mais merecedores do que
pensava do soberano dom com que pensava premiar sua santa vida.
Os fatos vieram confirmar isto: o primeiro foi que, certo dia, teve Amata
uma visão, na qual o Senhor lhe revelou que havia de ser mãe duma menina
tão extraordinária que, com o brilho de suas virtudes e prodígios, deveria
ser não só precioso ornato de sua família e de sua pátria, como também
de fama universal no mundo cristão. Tão agradável revelarão sem duvida
foi o prêmio da especial devoção que Antonio e Amata professavam à
sacratíssima Paixão de N. Senhor Jesus Cristo, pois os mistérios da
vida e da morte do divino Salvador constituíam, de ordinário, o objeto de
suas meditações. Não outra coisa senão a meditação sobre estes
mistérios era o que lhes fazia sumamente compassivos das necessidades de seus
próximos, socorrendo-os se eram pobres, visitando-os se estavam doentes,
ou corrigindo com caridade seus erros e ignorância, chegando a conseguir por
isto grande autoridade .e estima no conceito de seus conterrâneos.
Os biógrafos de nossa junta especificam estes detalhes para explicar, pela
devoção dos pais, a que teve Santa Rita desde sua meninice aos mistérios
da Cruz.
Ocupados em tão piedosos exercidos iam passando os anos para Antonio e
Amata, e quase haviam perdido as esperanças de ter sucessão, quando Amata
começou a sentir em si algo estranho que não sabia explicar; parecia-lhe
sentir-se mãe, mas julgando ser vítima duma ilusão, cheia de dúvidas,
correu e prostrou-se aos pés de Jesus crucificado orando devotamente; e
quando mais fervorosa eram suas súplicas, o Senhor se dignou confirmar
a revelação feita anteriormente, de que daria a luz uma menina que se
chamaria Rita, a qual consolaria a velhice de seus pais e havia de ser
Margarida preciosa pelo esplendor de suas virtudes, pois Rita é contração
deste belo nome. Acalmaram-se completamente as inquietações de Amata, e
em lugar daquelas ansiedades e dúvidas que sentia em seu espírito, nasceu
em seu coração inefável gozo, misto de certo rubor, vendo-se mãe em
idade tão avançada.
Não há para que dizer das fervorosas preces de ação de graças que
endereçariam ao Senhor, e nem a natural impaciência com que esperariam os
piedosos cônjuges o nascimento daquela menina que havia de ser enriquecida de
preciosos dons, como depois o confirmaram os fatos que iremos referindo nesta
historia.
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